Estava com ela todos os dias. T-o-d-o-s os dias. Era
exaustivo. Ouvi-la e não ser correcto tocar-lhe. Cumprimenta-la e não ser
correcto abraçá-la. Ele não queria isso. Não mais. Não aguentava o acelerar do
coração sempre que os olhares se cruzavam. E custava ainda mais quando, no seu
pensamento, sabia que tudo o que ele sentia era reciproco. Todas as dúvidas
surgiam naqueles momentos. Porque não teve coragem para acabar o namoro. Porque
foi ignorante a ponto de não perceber que a gravidez apenas serviu para o
prender. Estava cansado. Deixou de se conhecer. O único ser humano que lhe
dava, naquele momento da sua vida, um pequeno mas enorme sentido tinha apenas
um ano de vida. A pessoa que queria que o conhecesse, melhor do que ninguém,
ainda só o conhece pelo cheiro e pela voz. Exaustão. Está a atingir o culminar
de tudo o que lhe condena o coração. Todos os erros, todas os maus conselhos
que seguiu. Está a culminar num sentimento de ódio. Ódio não pela esposa que
engravidou por necessidade de o prender. Ódio não pela mulher que amava que não
o soube ver a verdade. Ódio por ele próprio. Ódio porque não soube ouvir o
coração, ódio porque não soube se conhecer quando assim o devia ter feito. Está
tudo a culminar em algo que ele não desejava. Mas há alguém que o merece
conhecer. Ele não o irá proibir disso. Não será, ainda, que o abismo o vai
"engolir".
Gostei das história, é algo diferente do que costumas escrever mas tem significado e isso sinto-o na forma como escreves algumas passagens.
ResponderEliminarUm beijinho Lú